Sempre tive e tenho muita dificuldade em aprender qualquer coisa. Durante os meus anos de estudante sempre senti uma resistência enorme em assimilar novos conceitos. Nunca fui bom aluno em nada. E mesmo com muitas horas de estudo era na melhor das hipóteses mediano.
Já nas actividades físicas, o meu cérebro simplesmente funciona.
Vês ali aquele animal? Eu consigo atirar uma pedra e acertar-lhe na cabeça independente do braço que utilizar. Não tenho um lado predominante ambos funcionam de uma forma absolutamente eficaz.
Pouco útil nos dias actuais, mas na pré história aposto que era útil.
Aplicado ao desporto tenho inúmeras vantagens:
- Ténis, uma raquete em cada braço por exemplo.
- Boxe, transições entre esquerda e direita sem qualquer problema.
- Surf, Regular ao Goofy é igual.
Chama-se a isto, dislexia. A mim oferece uma capacidade física superior mas uma capacidade intelectual inferior.
Ler, tenho que o fazer lentamente. Escrever (isto que estás a ler) pior ainda.
Durante anos fui acompanhado por psicólogos para me ajudarem a lidar com as actividades escolares.
Se me é fácil rematar à baliza com qualquer umas das pernas certamente será fácil escrever com a mão esquerda ou com a mão direita, certo?
Mais ou menos.
Imagina duas pessoas a ditar textos diferentes, com a mão esquerda escreves uma coisa e com a mão direita escreves a outra, útil realmente. O problema é que por vezes o lado esquerdo passa para o lado direito e vice-versa. E no final tens uma sopa de letras.
Manter o ditado fixo em cada lado foi algo que necessitou treino. Tive que encontrar um hemisfério predominante e anular o outro. No fundo basta fixar a atenção num dos hemisférios e deixar de dar importância ao outro. E assim funciona o meu cérebro ao longo dos anos. Mas a capacidade de escrever com ambas as mãos desvaneceu-se, até muito recentemente quando que despertou para a música.
Durante o COVID sem trabalho e fechado em casa achei que tocar piano era um bom desafio.
Encontrei um site com aulas de piano. E comecei a estudar para ver como o meu cérebro reagia.
Como me é habitual levei tempo a compreender o básico, o que é normal para mim. Depois de dominar o teclado e reconhecer padrões comecei a conseguir fazer uns sons melódicos.
E actualmente estou a conseguir ler música. Estou a conseguir olhar para a pauta e os meus dedos fazem o resto. Como exemplo segue a Marche Slave - Tchaikovsky numa versão simplificada para principiantes.
Tenho pena que a aprendizagem da música só agora, com mais de 50 anos me tenha chegado ao cérebro. Sinto uma facilidade natural em ter a mão esquerda a fazer algo diferente da mão direita mas ambas a trabalhar no mesmo sentido, é uma satisfação e um orgulho pessoal enorme.